O movimento modernista, como já sabemos, foi cercado de polêmicas, mudanças, rupturas e novidades que chocou, renovou e nos deixou como herança esse conceito de pluralidade artística que é motivo de tanto orgulho para o Brasil.
Hoje vamos falar sobre uma figura polêmica e excêntrica do Modernismo brasileiro: Flávio de Carvalho. Engenheiro, cenógrafo, arquiteto, teatrólogo, pintor, desenhista, filósofo, escritor, músico. Flávio era o que chamamos de artista completo.
Sua criatividade parecia não ter fim, fosse em qualquer área que estivesse atuando. As “Experiências” 2, 3 e 4, por exemplo, das quais falaremos logo mais, são lembradas e debatidas até hoje, sempre que se fala em experimentos de arte.
Nascimento: | 10 de agosto de 1899 |
Morte: | 4 de junho de 1973 |
Nacionalidade: | Brasileiro |
Principais obras: | Experiência Nº2 \ Experiência Nº3 \ O bailado do deus morto \ Série Trágica |
Conteúdo deste artigo:
Quem foi Flávio de Carvalho
Por nascer em família rica, em 1889, Flávio de Rezende Carvalho, nascido na cidade de Barra Mansa, no Rio de Janeiro, mas se mudou com a família para a cidade de Valinhos, São Paulo.
Teve o privilégio de uma educação no exterior, graças a mudança, dessa vez para a França. Estudou na França, e depois se formou como engenheiro civil na Universidade de Durhan, no norte da Inglaterra, em 1922.
Nesse mesmo tempo, como já se interessava por artes, usava o período da noite para ter aulas e aprofundar seus conhecimentos na King Edward the Seventh School of Fine Arts.
Retornou ao Brasil depois de formado, e interessado pelo movimento modernista, aliou-se. Chegou a fazer alguns projetos arquitetônicos modernistas.
No entanto, apenas dois foram de fato realizados:
A fazenda Capuava, em 1939
E o complexo de casas da alameda Lorena, construído entre 1936 e 1938
Ambos estão situados em São Paulo e tornaram Flávio de Carvalho o precursor da arquitetura moderna brasileira.
Trabalhou como calculista de grandes estruturas para um escritório de engenharia civil e arquitetura chamada Ramos de Azevedo. Porém, depois de um tempo se enfadou dessas atividades e começou a fazer muitas outras, agora ligadas à escrita e arte.
Foi um dos membros fundadores do Clube dos Artistas Modernos, junto com Di Cavalcanti e Antônio Gomide. Grupo esse que se reunia para discutir sobre liberdade artística e política.
VEJA TAMBÉM: Almeida Junior: A vida e a obra
Sua arte provocativa
Considerado um precursor da performance brasileira, sua intenção parecia estar mais ligada à emoção provocada nas pessoas, e que ele mesmo sentia com isso, do que com a lógica em si. Porém, isso não significa falta de lógica em suas obras. Muito pelo contrário
Graças as suas tantas áreas de atuação como engenharia, filosofia, cenografia, escrita e tantas outras, seus trabalhos eram muito bem pensados, estudados e calculados.
Era um grande adepto da experimentação, característica forte em suas obras, que estavam sempre desconstruindo padrões, pois seus conceitos eram muito subjetivos.
Ele gostava de provocar e sentir a resposta, muitas vezes impulsiva ou inconsciente humana, como o exemplo da “experiência nº 2”. Se conectava de corpo e alma com tudo que se propusesse a fazer.
A cidade do homem nu
Em 1931, A cidade do homem nu foi uma proposta filosófica-arquitetônica em que Flávio de Carvalho idealizou uma utópica e futurista metrópole construída nos trópicos.
A nudez descrita no título, representava o ser humano despido de tabus e vaidades. Não teria Deus ou matrimônio, ou sequer propriedades.
A exposição mostra como Flávio de Carvalho era um pensador a frente de seu tempo, pois nela propões a individualidade corporal e sexual do ser humano como algo fora de padrões pré-estabelecidos socialmente através do “centro de erótica”.
O conhecimento do universo através do centro de pesquisas que encorajaria a curiosidade e descobertas científicas e tecnológicas no “centro de pesquisa”.
Contando com outros “centros” como “centro de religião” e “centro de parto”, a proposta era de que o ser humano fosse livre para raciocinar, viver e pensar.
Experiência Nº2
A Experiência nº 2, que deu origem a um livro de mesmo nome, aconteceu em 1931, e consistiu em atravessar andando em direção contrária, uma procissão de Corpus Christ que acontecia em São Paulo, usando um boné verde na cabeça.
Falando assim, parece uma coisa tola, mas vamos às considerações das circunstâncias:
Naquela celebração religiosa, todos deveriam caminhar na mesma direção e de cabeças descobertas, de modo que caminhar ali no meio na direção contrária e com a cabeça coberta, era quase uma blasfêmia.
Flávio de Carvalho conta no livro que de início ele apenas caminhou observando os olhares de estranhamento e desaprovação. Mas, não contente com apenas isso, começou a olhar de maneira lasciva para as “carolas” que estavam na passeata.
Após algum tempo, começou a ouvir algumas vozes vindas da multidão, que o diziam para tirar o chapéu. Isso não o abalou. Continuou andando e observando, até que em certo momento, recebe um tapa na cabeça, que faz com que o boné caia no chão.
Ele relata no livro, que naquele momento começou a procurar pelo boné, até que um garoto adolescente encontra e o entrega, dando-lhe uma advertência em tom de desafio, para que não o colocasse novamente.
Após isso, outros homens começaram a confrontar Flávio, que os confronta de volta e segue sua caminhada, até que ouve vozes dizendo para linchá-lo. Coisa que aconteceria se não tivesse fugido, entrado em uma leiteria e depois ser preso e liberado logo depois.
O fato chegou até a ser noticiado nos jornais da época.
Meses mais tarde, o livro intitulado “Experiência Nº2”, onde Flávio de Carvalho relata todo o ocorrido fazendo uma análise psicológica das massas. Sua escrita nesse livro tem forte influência na psicanálise freudiana.
O bailado do deus morto
Em 1933, Carvalho apresenta o espetáculo “O bailado do deus morto” no Teatro da Experiência, no qual foi responsável pelo texto, cenários, figurinos e iluminação. Na peça, a maioria dos atores eram negros, coisa incomum na época.
Foi uma obra experimental que inovou o cenário teatral brasileiro. Era um espetáculo de teatro e dança, onde os personagens encenavam fazendo movimentos dinâmicos, usando máscaras de alumínio.
Aconteceram apenas três apresentações, pois o teatro foi fechado pela polícia dias depois. Vale lembrar que o Teatro da Experiência tinha acabado de ser fundado e aquele era seu primeiro espetáculo.
Pouco tempo depois disso, o Clube dos Artistas Modernos encerrou as atividades.
Série trágica
Em 1947, devastado pela dor da perda de sua mãe, Flávio de Carvalho fez 9 desenhos produzidos apenas com traços feitos de maneira embaraçada e rápida, onde retrata sua mãe morrendo.
Foi chamado de “o artista maldito” por como retratou essas obras pesadas e mórbidas que apenas expressavam uma dor vivida em um profundo luto.
Seu desejo não era pela fisionomia, mas pelo aspecto psicológico do retrato.
Experiência Nº3
Durante algum tempo, na década de 50, ele escreveu vários artigos, pensando na moda e no novo homem. Para esses artigos, ele tinha a coluna “Casa, homem e paisagem”, no antigo jornal Diário de São Paulo.
Nesse contexto da Experiência Nº3, ele diz que “a arte que interessa é aquela que procura destruir uma certa verdade”. Ou seja, ele buscava mais uma vez quebrar uma “regra” estabelecida, que desta vez seria a da vestimenta.
Vamos lembrar aqui que a forma de um homem se vestir nos anos 50 era completamente padronizada. Terno e gravata era uma combinação que não podia faltar no guarda-roupa do homem daquela época. Short, nem pesar. Camisa manga-curta, muito menos
Carvalho criou um traje que chamou de New Look, ao que disse se tratar de um traje tropical que consistia em uma camisa de mangas curtas, uma saia de estilo que hoje chamamos “saia de pregas”, acima dos joelhos, um chapéu de abas largas e uma meia-arrastão.
Então, aquele homem alto vestiu seu “New Look” e chamou atenção caminhando pelas ruas de São Paulo, atraindo olhares perplexos com aquela roupa completamente estranha para a época, sendo fotografado e acompanhado por outros homens usando terno.
Sendo apoiado por outros artistas, repetiu o feito também na Itália.
Suas pinturas
Duas de suas telas consideradas mais importantes, são os retratos de Oswald de Andrade com Julieta Bárbara, de 1939 e o retrato de Mário de Andrade, também de 1939.
Essas telas são uma prova do interesse dos irmãos Andrade, que na época já eram grandes nomes que entraram para a história, pelo talento e genialidade de Flávio de Carvalho.
Seus trabalhos como pintor eram classificados como expressionistas e até surrealistas, principalmente em algumas telas que vamos citar abaixo, de nus femininos, aquarelas e até trabalhos com tinta que brilhava na luz negra.
Flávio de Carvalho faleceu aos 73 anos em 1973, em Valinhos, São Paulo.
Principais dúvidas sobre o pintor:
Quem foi o pintor Flávio de Carvalho?
Flávio de Carvalho foi um pintor brasileiro nascido em 1864, no Rio de Janeiro. Foi um dos fundadores do movimento modernista no Brasil e uma das figuras mais importantes da arte brasileira do século XX. Sua obra é conhecida pelas suas cores vibrantes e pela forma inovadora com que retratou a paisagem brasileira.
Como era a personalidade do pintor Flávio de Carvalho?
O pintor Flávio de Carvalho era conhecido por ser um homem extremamente introspectivo e reservado. Ele gostava de passar longos períodos sozinho, em meio à natureza, onde buscava inspiração para suas obras. Apesar da introspecção, ele era um homem extremamente amigável e bondoso, sempre disposto a ajudar os outros. Sua personalidade marcante fez com que ele se destacasse dentre os demais artistas da época.
O que motivou o pintor Flávio de Carvalho a se tornar um artista plástico?
Desde criança, o pintor Flávio de Carvalho demonstrava habilidades para a arte, sendo incentivado pelos familiares a seguir essa carreira. Em 1880, ele ingressou na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, onde estudou durante três anos e se formou como desenhista e gravador.
Após a formatura, passou a trabalhar como ilustrador para diversos jornais e revistas, além de produzir quadros para decoração de casas particulares e instituições públicas. Esse trabalho rendeu-lhe reconhecimento e prestígio dentro do meio artístico brasileiro da época, o que o motivou a se dedicar exclusivamente à arte.
Com qual idade o pintor Flavio começou sua carreira artística?
O pintor Flavio começou sua carreira artística quando tinha 16 anos de idade, ingressando na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro 3 anos depois.
Quais foram as principais etapas da carreira do artista ?
A carreira do artista teve início quando ele foi admitido na Escola Nacional Belas Artes do Rio DE janeiro , onde permaneceu por 3 anos . Em seguida , Flavio passou a trabalhar como ilustrador para vários jornais e revistas até finalmente se dedicar exclusivamente à arte . 9 .Qual foi o primeiro quadro importante produzido por Flavio ?
Um dos primeiros quadros importantes produzidos pelo artista foi ” A Morte De Um Cigano” , datado 1886 . 10 .Em qual período histórico viveu e produziu suas obras Flavio ?
Flavio viveu no final do século XIX e inicio do século XX , período este conhecido como Belle Époque .
Curiosidades
Primeira exposição solo
Sua primeira exposição individual foi fechada pela polícia. A acusação era de que cinco de suas telas eram um atentado ao pudor. Porém, ele abriu novamente a exposição depois de ganhar o direito na justiça.
Experiência Nº1
Ele não publicou nada sobre a experiência Nº1. É uma experiência que ele não relata por não achar interessante o suficiente, por isso ele ignora.
Experiência Nº4
A experiência Nº4 foi uma experiência de expedição, que consistiu em uma viagem para o Amazonas e fazer um filme sobre isso.
VEJA TAMBÉM: 50 pintores brasileiros mais importantes e sua principal obra
Obras de FLávio de Carvalho:
- Alegoria do Movimento, 1914 – Museu de Arte Moderna de São Paulo
- Alegoria do Tempo, 1915 – Museu de Arte Moderna de São Paulo
- Cabeça de Mulher, 1915 – Museu de Arte Moderna de São Paulo
- Composição, 1916 – Museu de Arte Moderna da Bahia
- Dança, 1916-17 – Pinacoteca do Estado de São Paulo
- Descanso, 1917 – Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
- Figuras na Paisagem, 1918 – Coleção particulares
- Noite, 1918-19 – Coleção particular
- O Lavrador, 1919-1920 – Pinacoteca do Estado do Paraná
- Pescadores, 1920-21 – Museu Lasar Segall, São Paulo
- Ponte Aérea (Quadrado Mágico nº 4), 1921 – Galeria Luisa Strina, São Paulo
- Ressurreição, 1922 – Igreja Santo Antônio dos Capuchinhos , Rio Grande do Sul
- A Cachoeira e as Montanhas , 1923 – Coleçao particulares
- As Meninas Novas (Quadrado Mágico nº 11), 1924 – Museu Nacional de Belas Artes , Rio de Janeiro
- .Cristo Negro (Quadrado Mágico nº 12), 1925 – Igreja Santo Antônio dos Capuchinhos , Rio Grande do Sul
- .A Morte (Quadrado Mágico nº 13), 1926 Igreja Santo Antônio dos Capuchinhos , Rio Grande do Sul
- Pedregulhos (Quadrado Mágico nº 14) , 1927 Galeria Luisa Strina , São Paulo
- O Enforcamento (Quadrado Mágico nº 15) , 1928 Igreja Santo Antônio dos Capuchinhos , Rio Grande do Sul
- Cristo Azul (Quadrado Mágico nº 16) , 1929 Igreja Santo Antônio dos Capuchinhos , Rio Grande do Sul
- Paísagem com Montanhas e Sol, 1930 – Coleção particular
- O Caminho, 1931 – Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
- A Fonte, 1932 – Museu Lasar Segall, São Paulo
- A Cabeça de Cristo, 1933 – Coleção particular
- O Crucificado, 1934 – Pinacoteca do Estado de São Paulo
- A Ressurreição, 1935 – Coleção particular
- O Enigma do Horizonte, 1936-37 – Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro
- A Criação do Mundo, 1938-39 – Museu Lasar Segall, São Paulo
- O Lavrador e a Terra, 1940-41 – Museu Lasar Segall, São Paulo
- Quadrado Mágico nº 17), 1942 Galeria Luisa Strina , São Paulo
30 .A Ponte (Quadrado Mágico nº 18) , 1943 Galeria Luisa Strina , São Paulo
Algumas de suas pinturas
- A Inferioridade de Deus (1931)
- Anteprojeto para Miss Brasil (1931)
- Ascensão Definitiva de Cristo (1932)
- Casal (1932)
- Nu Feminino Deitado (1932)
- Retrato Ancestral (1932)
- Mulher Esperando (1937)
- Retrato de Jorge Amado (1945)
- Mulher Morta com o Filho (1946)
- Retrato de José Lins do Rego (1948)
- Nuvens de Desejo (1949)
- Casal na Sala de Espera da Estrada de Ferro de Jundiaí (1954)
- Estudo Para Nossa Senhora da Noite (1954)
- Três Mulheres (1954)
- Velame do Destino (1954)
- Mulher Criatura Pensativa (1955)
- Nossa Senhora do Desejo (1955)
- Duas Mulheres (1960)
- Paisagem Estival (1964)
- Auto-retrato (1965)
- Mulatas (1971)
E então, gostou? Qual das obras mais te interessou?